
Tonicha por Francisco Marzia
2012/10/25 Por Carlos Portelo
Francisco Marzia professor do ensino secundário, nasceu no Alto Alentejo em 1963. Desde pequeno que admira as canções portuguesas cujas letras não são ao metro. O primeiro autor que o fez pensar na letra de uma canção foi o José Carlos Ary dos Santos, com o “ribeiro à cintura” da Tonicha e com o “cavalo à solta pelas margens do meu corpo” do Fernando Tordo.

CP – Lembra-se a partir de que momento se considerou um admirador da carreira de Tonicha?
FM - Perfeitamente: a partir do momento em que Tonicha vence o Festival da Canção no Teatro Tivoli em 1971. Eu tinha 7 anos (fiz 8 nesse verão).
CP – Podemos encontrar no percurso artístico de Tonicha vários momentos distintos, porém há 3 deles que se destacam.
Num primeiro momento podemos referir a cantora dos Festivais com temas ligados à música ligeira portuguesa de então, num segundo momento o de cantora de intervenção, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e que durou cerca de dois anos e um terceiro momento o de cantora de temas ligados ao nosso folclore. Por favor fale-nos destas fases do percurso de Tonicha e se tem preferência por alguma delas.
FM - Até à “Menina”, as canções mais ligeiras de Tonicha, que marcam a fase inicial da sua carreira, eram-me desconhecidas. Atualmente acho alguma piada às canções com que Tonicha venceu dois Festivais da Figueira da Foz: “Boca de amora” (1966) e “A tua canção avozinha” (1967). Grandes canções que descobri apenas quando comecei a colecionar a totalidade dos vinis de Tonicha são as canções do José Cid em que Tonicha é acompanhada pelo Quarteto 1111. São 3 EP (11 canções) da RCA (1968, 1969 e 1970) e cujos direitos pertencem à Universal. Estas belíssimas canções dariam um ótimo CD, qualquer coisa do género: “Tonicha canta José Cid”. Mas foi realmente a “Menina” do Ary e do Nuno Nazareth Fernandes que me encantou. Nesta linha, há um LP formidável: Ela por ela (Polygram-1980), com poemas de Joaquim Pessoa e músicas de Carlos Mendes, Tozé Brito e Pedro Osório. Contém canções fantásticas e às quais Tonicha dá interpretações inesquecíveis: “Chamar-te meu amor”, “Canção sem ti”, “Canção da Rosalinda”, “Canção da coragem”, “Canção da alegria”.
As canções do Festival de 1978 já indiciavam este LP. O seu último disco inteiramente de originais, o cd de 1997 Mulher, cuja reedição foi esquecida pela Universal, foi o retomar dessa linha poética. Neste disco há cinco canções inesquecíveis: “O meu caminho” (António Pinho/Tozé Brito), “Ave Maria” (Luís Pedro Fonseca/Schubert), “Ó pastor que choras” (José Gomes Ferreira/José Almada), “Ao menos uma vez” (Pedro Barroso) e “Cavalo de palavras” (Ary dos Santos/Joaquim Pessoa/Carlos Mendes).
A fase pós-25 de abril deve-se à estreita ligação de Tonicha ao Ary dos Santos. Ele viveu esta época em plena euforia e compôs uma série de canções para Tonicha que andam aí nas coletâneas sobre o tema. Eu era um miúdo no 25 de abril, mas vivi, no Alentejo, essa alegria. Sabia de cor “Portugal ressuscitado” (Tonicha, Tordo e In-Clave), “Já chegou a liberdade” e ouvia a versão da Tonicha da canção mais popular do 25 de abril: “Somos livres”, da Ermelinda Duarte. Há dois LP, que descobri na totalidade uns anos mais tarde, que são emblemáticos: Canções de Abril e Cantigas do meu país, ambos editados pela Discófilo (editora de Tonicha, do marido, João Viegas, e do José Carlos Ary dos Santos) e reeditados depois pela Orfeu. Se os ouvirmos com atenção, descobrimos uns arranjos magníficos de uma figura ímpar da música portuguesa: Jorge Palma.
O terceiro momento de que fala – o folclore – começou ainda antes da “Menina”. Começou com três EP (ainda da editora RCA) que venderam muitos milhares de discos, numa altura em que a edição de um disco de música portuguesa não ia além das centenas de unidades. Desses discos nasceram temas do nosso cancioneiro popular: “Vira dos malmequeres”, “Resineiro”, “Senhora do Almortão”, “Pesinho do Pico”, “La ri lo lé”, “Vai de ruz truz truz”. Algumas destas canções foram regravadas por Tonicha num cuidado CD em 1995: Canções d’Aquém e d’Além Tejo, que conta com a participação e com uns arranjos magníficos dos músicos do grupo “Brigada Vítor Jara”. Infelizmente a editora Universal também nunca mais reeditou esse cd. Se eu tivesse de escolher um disco desta fase, escolheria o LP de 1976, Cantigas populares, da editora portuense Orfeu, com arranjos e direção de orquestra de Jorge Palma (mais uma vez) e que tem das melhores interpretações de Tonicha: “Minha mãe, minha mãe” (que se ouve atualmente com frequência na portuguesíssima Rádio Sim), “O meu bem” (um tema soberbo dos Açores – acho que aí Tonicha atingiu o pico da interpretação), “Milho verde” ou “Cantigas de Maio” (de José Afonso), por exemplo.
Ainda nesta fase, Tonicha gravou canções mais populares (muitas delas da autoria do marido, João Viegas, um etnólogo por paixão e muito conhecedor da música tradicional portuguesa – apresentou programas de folclore na RTP) que a fizeram correr o país de lés a lés durante anos. Deve ter cantado em todos os lugares, aldeias, vilas e cidades de Portugal e do mundo onde há portugueses os temas dos finais dos anos 70: “Zumba na caneca”, “Gaiteiro português”, “Chico Pinguinhas”, “Sericotalho, bacalhau, azeite e alho”, “Tu és o Zé que fumas”, “Pestotira”.
CP – Tonicha teve 8 canções nos 4 festivais em que concorreu.
Em 1968 a cantora esteve prestes a ganhar o festival com o tema Fui ter com madrugada, nesse mesmo festival Tonicha também defendeu a canção Calendário. Teve oportunidade, mesmo a posteriori, de ver esse festival? Qual a sua opinião sobre estes dois temas?
FM - Eu acho esses primeiros festivais cansativos. As canções não são do meu agrado. Só começo a gostar realmente dos festivais com José Carlos Ary dos Santos.
CP – Qual das 10 canções deveria ter ganho esse festival e porquê?
FM - Essa questão é-me indiferente. “Verão” tem uma batida mais pop, mas é uma canção inócua. Mas “Fui ter com a madrugada” também o é. Só em 71 é que realmente começo a ficar fã dos festivais e, ainda por cima, esse festival tinha três dos meus (quatro) intérpretes de eleição: Tonicha, Paulo de Carvalho e Fernando Tordo. O outro é o Carlos Mendes que ganhou em 68 e em 72.
CP – Em 1971 Tonicha regressa ao festival com a dupla Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes e vence-o sem margem para dúvidas, embora existisse quem defendesse o tema interpretado por Paulo de Carvalho seria o justo vencedor. Por favor comente este festival e a importância que o mesmo teve na carreira de Tonicha. Caso Tonicha não tivesse concorrido quem em seu entender deveria ter ganho esse festival?
FM - É em 71 que fico encantado com as palavras de Ary. Não só por causa da “Menina”, mas também devido ao “Cavalo à solta”. Se Tonicha não tivesse concorrido eu apostaria na canção do Tordo, ainda que a canção do Paulo, “Flor sem tempo”, fosse mais festivaleira.
CP – Tonicha trouxe da Eurovisão a melhor classificação de sempre obtida até à altura. por Portugal, neste certame europeu, num ano recheado de grandes canções, como viveu, mesmo à posteriori, o desempenho de Tonicha na Eurovisão e a respetiva classificação?
FM - Foi uma festa. E o facto de Tonicha ter gravado a canção em vários idiomas ainda me transmitiu uma sensação mais forte do seu sucesso europeu.
CP – Em 1973 Tonicha volta ao festival por convite de José Calvário e de José Niza para defender não uma menina mas A rapariga e o poeta, classificando-se em 9º lugar. Quer comentar esta canção e a respetiva classificação.
FM - “A rapariga e o poeta” foi uma canção incompreendida. A letra do José Niza é muito interessante e aproxima a rapariga do grande Camões (“Poeta amigo/Parto contigo/Nosso degredo/Fica em segredo./Adeus ao mundo!.../Venham cantores/Descobrir a ilha dos amores!/Sofreste o livro/De um povo ao vivo!/Viveste à sorte/Sorriste à morte!/Brigaste vidas/Calaste dores/Mas nunca temeste adamastores!”). Talvez a música (José Calvário), pouco óbvia, tivesse baralhado as pessoas.
CP - Concordou com a vitória de Tourada ou em seu entender qual a canção que merecia ter ganho?
FM - Claro que “Tourada” seria sempre a canção vencedora. Lembro-me perfeitamente de ter visto este festival numa taberna na minha terra, Ponte de Sor. Nesse tempo, o festival era um acontecimento e os habitantes da vila (homens, mulheres e crianças) iam ao café, neste caso à taberna, ver os festivais, as touradas, as noites de variedades e o futebol. Nessa noite, um primo meu, mais velho, após a apresentação de todas as canções disse-me logo: “este ano não ganha a tua Tonicha e sim o Fernando Tordo”. Bem dito, bem certo!
CP – Em 1978 a RTP convida Tonicha, José Cid e os Gemini a serem as vozes e os rostos desse festival. Fale-nos das 4 canções que Tonicha defendeu nesse festival e qual ou quais as suas preferidas?
FM - São canções que ainda hoje oiço com muito prazer. Tenho duas preferidas: “Canção da amizade” da dupla responsável pela maioria do LP Ela por ela, Carlos Mendes e Joaquim Pessoa, e “Quem te quer bem, meu bem”, de António Pinho/Nuno Rodrigues, (“Meu amor, meu país de tantos rios/ Mil aldeias mil meninas/ A molhar os pés no mar/ Meu país de mil campinas/ O teu corpo hei de cantar”). Como vocês têm dito nesta enciclopédia sobre os festivais RTP que é o vosso/nosso site, esta canção, de caráter étnico, teria sido uma boa representante de Portugal na Eurovisão.
CP – Na época escreveu-se que Tonicha detinha as melhores canções, porém foi a que obteve classificações piores, como explica este facto?
FM - Ignorância do júri – nesse ano era apenas o júri nomeado pela RTP. O júri era tão possidónio que achou que “Dai li dai li dou” era uma canção moderna. “Dai li dai li dou” é das canções mais inenarráveis dos festivais. “O meu piano”, do José Cid, sim, também teria sido uma boa vencedora.
CP - Se fosse o responsável pela escolha da canção vencedora das 12 a concurso qual escolheria e porquê?
FM - “Quem te quer bem, meu bem”, de António Pinho/Nuno Rodrigues. É uma canção muito bem construída e que apela ao universo popular do repertório de Tonicha.
CP – Tonicha representou a RTP também na OTI com Glória, glória aleluia, outro marco na carreira da cantora, quer comentar?
FM - Uma boa canção de José Cid, a piscar o olho ao gospell. Foi para o 1º Festival OTI, em Madrid, 1972. Nessa altura, Tonicha trabalhava muito com o maestro espanhol Augusto Algueró, que tinha feito a orquestração da “Menina”. Ele fez também a orquestração de “Glória, glória, aleluia”. A voz de Tonicha é puxada ao máximo. E há uma outra canção do ano da “Menina” (1971) e de outro festival, o de Atenas, que também é orquestrada pelo Algueró e uma preciosidade: “Poema pena” de Nuno Gomes dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes. O músico contou ao Herman José, num programa deste na RTP, que foi pedir uma letra ao Ary dos Santos para a Tonicha cantar em Atenas e que ele respondeu que não escrevia para o país dos coronéis. No entanto, já tinha escrito para outro país dos coronéis, o Brasil, para Tonicha cantar no Festival do Rio de Janeiro. Por sinal, mais uma canção fantástica: “Manhã clara”.
CP – Tonicha foi atração nacional em algumas revistas à portuguesa, logo após 25 de Abril de 1974, quando este tipo de espetáculos esgotava os respetivos teatros. Por favor fale-nos destas canções e como tomou contacto com elas.
FM - Tonicha apenas participou na revista “Uma no cravo e outra na ditadura”, por insistência do Ary. Tonicha e Fernando Tordo eram as atrações musicais. Só tomei contacto com essas canções quando começaram a sair coletâneas sobre o 25 de abril. A revista estreou ainda em 1974. Entretanto Tonicha adoeceu e foi substituída pela fadista viva que mais me agrada: Beatriz da Conceição, que cantava um fado excecional do Ary e do Tordo, “Meu corpo”. Em relação às canções de Tonicha, há uma, da dupla atrás citada, que eu acho fabulosa e que a Tonicha cantou com o Tordo no programa “Falas tu ou falo eu”, da SIC: “Cacau da ribeira”.
CP – Falando de teatro, sabemos que Tonicha esteve integrada num projeto teatral, em 2010, intitulado Vozes de trabalho, no Teatro da Trindade, como correu essa experiência, o que achou dela?
FM - Foi uma experiência que ficou aquém das expetativas, pois acho lamentável que o espetáculo não tenha corrido o país. Curiosamente, o Inatel anunciara essa intenção na sua revista, Tempo Livre. A peça, escrita por Tiago Torres da Silva, parecia desenhada para a imagem mítica que temos da cantora popular que é a Tonicha. O universo da peça eram as tradições populares do mundo do trabalho e da folia. Havia o mito da cantora popular de que toda a gente ouvia falar e que só os mais velhos tinham conhecido. Mas como no mundo da fantasia é possível cruzar o passado e o presente e após uma cena hilariante, com copinhos de vinho à mistura, entre as personagens femininas interpretadas pelas atrizes Cecília Guimarães, Lurdes Norberto, Filipa Pais e Joana Negrão, a lenda reaparecia e Tonicha cantava uma canção popular do seu repertório tradicional, “Vareira do mar”, em ambiente de arraial. Após este ambiente de festa, dionisíaco, Tonicha voltava a cantar, agora num registo mais contido e melancólico, uma bela canção original de Tiago Torres da Silva e Vasco Ribeiro Casais, “Quantas voltas dá a nora”, que pode ser ouvida no youtube. Além das canções, Tonicha também representava. Creio que para a Tonicha foi uma nova e enriquecedora experiência, a da representação, mas foi uma situação bem difícil, pois atravessava um mau momento de saúde. Para os fãs, foi uma festa! Eu vi a peça várias vezes.
CP – Certamente sabe que Tonicha participou no filme português, da década de 60, intitulado Sarilho de Fraldas em que foram protagonistas Madalena Iglésias e António Calvário. Chegou a ver esse filme?
FM - Vi, mas não aprecio. Vejo e gosto de muitos filmes portugueses, mas esses da dupla António Calvário/ Madalena Iglésias não são o meu género.
CP – Sabemos que é um dos responsáveis pelo Clube de Fãs de Tonicha com site e Facebook, quer dar a conhecer aos nossos leitores esses mesmos espaços e o que o motivou a construir estes mesmos sítios?
FM - Há muito que eu guardava elementos alusivos à carreira da Tonicha: recorte de jornais, discos, fotografias, etc. Depois comecei a pesquisar na net e a guardar mais esses dados. Um dia, um amigo, também responsável pelo site http://tonicha-clube-de-fas.blogspot.pt/ , Venâncio Gomes, teve a ideia de pôr à disposição de todos o meu banco de dados sobre a Tonicha. Aí, comecei a completar a coleção de vinis da Tonicha e consegui encontrar raridades nos leilões na internet. No verão de 2008, eu estava no Funchal e a minha sobrinha Noémia telefonou-me dizendo que a Tonicha estava a cantar na RTP, no programa “À volta”. Eu pedi para ligarem a televisão (estava em casa de uns amigos) e vi a Tonicha com um grupo de músicos alentejanos (Tonicha e venham mais cinco), a cantar um tema do Baixo Alentejo: “Tourada”, que ela gravou no CD de 1995, Canções d’Aquém e d’Além Tejo. No programa, Tonicha avisou que ia estar em Sines uns dias depois. Como já estava em Lisboa nessa data, arranquei para Sines. Durante os ensaios, falei com a Tonicha e disse-lhe que estávamos a fazer o blogue de homenagem à sua careira e que gostaríamos de falar com o marido, João Maria Viegas, que sempre dirigiu a carreira de Tonicha. E assim abriram-nos a porta da sua casa. Até hoje.
CP- Existem outros espaços na web dedicados a Tonicha?
FM - Há mais algumas páginas, mas não tão completas como o nosso Clube de Fãs. No nosso caso, o mais curioso é que recebemos correio eletrónico dos vários cantos do mundo. Há fãs que nos contam histórias deliciosas. Há dias recebemos um email de um senhor que tem um autógrafo do início da carreira da Tonicha e que se lembra de a cantora ter dito que era o primeiro autógrafo que dava. Há outro testemunho, este está no nosso site, de um professor galego que afirma ter começado a estudar português graças às canções da Tonicha. Por aqui, também contactámos com Patxi Andion que em 72 fez quatro canções muito boas para a Tonicha. Foram gravadas em português (com versões do Ary) e em castelhano. Oiçam “20 versos a mi muerte” (“Quiero morirme descalza/ Quiero que me echen la tierra/ Sin mimo y sin desconsuelo/ Como quando se hace un hijo// Yo quiero sentir la tierra/ Cubrirme toda la vida/ Que se me escapa sin verla/ Por un camino sin prisas”) e digam lá se o autor e a cantora não são sublimes! Enfim, o Clube de Fãs é um local de encontro e de histórias sobre uma carreira riquíssima.
CP – Uma pergunta se impõe: Que é feito de Tonicha?
FM - Tonicha, que está sempre no nosso coração, tem combatido alguns problemas de saúde. Creio que agora está em franca recuperação e pronta para nos presentear com algumas surpresas. Aguardemos até março de 2013. Tonicha faz anos a 8 de março, dia internacional da mulher.
CP – Conhece pessoalmente a cantora? Que relação mantêm?
FM - Como já referi, o blogue permitiu que nos tornássemos amigos. Se já antes respeitava e idolatrava a cantora, agora respeito e admiro a mulher combatente, ciente e crítica do mundo em que vivemos.
CP – Como sabe o Festival da Eurovisão é atualmente muito diferente daquele que Tonicha encontrou em 1971. Caso a RTP convidasse expressamente Tonicha a representar de novo Portugal neste certame apoiaria esta participação? Qual o tipo de canção que achava que Tonicha deveria levar à Eurovisão?
FM - Não creio que o Festival seja adequado para figuras como a Tonicha. Ele deve ser para gente que está a começar a carreira.
CP – Caso Tonicha tivesse que dividir o palco e a canção, com um dos cantores da nova geração, qual deles seria, para si, a escolha ideal para cantar com Tonicha no ESC?
FM - Tonicha nunca aceitaria (ela já o firmou na RTP) voltar ao festival. Mas, em todo o caso, gostei de ouvi-la, no programa da RTP “Operação Triunfo”, a dividir o palco com o Ricardo Soler, cantor que tem um bom potencial, mas as canções que lhe atribuem estragam tudo. O Ricardo acompanhou a Tonicha numa série de espetáculos no país, há uns anos. Eu pude ver um na Feira do Vinho e da Vinha em Borba. Foi muito interessante ver a reação dos espetadores, ávidos por ouvir a Tonicha, pois a cantora sabe fazer-nos desejá-la por tão raras serem as suas aparições ultimamente.
CP – Tem acompanhado os Festivais da Canção do Século XXI quer destacar alguma(s) canção (ões)e intérprete mesmo que não tenha vencido o festival em que concorreu?
FM - Acompanho sempre os festivais. Fico frequentemente muito dececionado com as canções e com os intérpretes. Contudo, nos últimos anos, há duas canções que me agradaram muito. Uma foi vencedora: “Senhora do mar”, da Vânia Fernandes; outra não chegou sequer à final, apesar de ser uma canção fantástica e com uma ótima interpretação: “Voar alto”, da Carla Pires.
CP - Sabe de algum projeto que Tonicha tenha a curto e médio prazo?
FM - Em março de 2013 devemos ter notícias.
CP – Para mim Tonicha representa... (por favor complete a frase).
FM - Como escreveu Pedro Osório, Tonicha é “uma cantora que sempre ostentou naturalmente um ar de menina, com uma voz cristalina que faz lembrar a água de uma fonte a correr, que nunca se meteu em disputas de estrelato, e que interpretou com a mesma verdade cantos de origem popular e canções com a responsabilidade de terem a assinatura de Ary dos Santos” (Pedro Osório, Memórias irrisórias com algumas glórias – 50 anos de música, Ed. Município de Oeiras, 2010). Eu não definiria melhor a minha cantora de infância que me acompanha até hoje.





