top of page

Isto é Eurovisão - Luxemburgo 1965 Poupée de cire poupée de son

17/06/2014 por Vasco da Câmara Pereira

O Festival Eurovisão da Canção 1965 teve lugar na cidade de Nápoles, em Itália, a 20 de março.

O espetáculo ocorreu no recentemente inaugurado centro de produção televisiva napolitano, na Sala di Concerto della RAI, e foi apresentado por Renata Mauro, uma locutora muito conhecida em Itália. Renata, que faleceu em 2009 e foi responsável, entre outros, pela apresentação de programas bastante conhecidos como o “Festival de São Remo” e os “Jogos sem Fronteiras”, tornou-se também conhecida do público italiano como cantora e atriz de teatro e de cinema.

Apresentaram-se a concurso 18 países, mais dois que no ano transato: a Suécia voltou a participar, após um interregno de um ano, e a Irlanda fez a sua estreia.

Entre as canções e a votação atuou Mario del Monaco, um dos maiores e mais conceituados tenores italianos, que alcançou o expoente máximo da sua carreira ao longo da década de 50 e 60 do século passado e que veio a falecer em 1982, com 67 anos de idade.

O modelo de votação manteve os mesmos moldes de 1964, sendo o júri constituído por 10 elementos, que pontuavam as suas três canções preferidas. Depois de somadas as votações individuais, a canção mais premiada recebia cinco pontos, a segunda classificada três e a canção galardoada com o terceiro lugar um ponto.

Caso todos os elementos do júri atribuíssem as suas classificações individuais a uma canção apenas, então seriam atribuídos 9 pontos ao país em questão. Se os jurados votassem individualmente em duas canções apenas, estas receberiam, respetivamente, 6 e 3 pontos.

 
PORTUGAL

Foi em 1965 que foram atribuídos os primeiros votos a uma canção portuguesa.  Infelizmente, alcançámos apenas um ponto, outorgado pelo júri monegasco, o que nos levou a terminar na 13ª posição.

Simone de Oliveira levou “Sol de inverno” até Itália, cantando o tema de forma mais abreviada que no festival: as duas primeiras quadras foram eliminadas, começando a sua interpretação em “sonhos que sonhei, onde estão? Horas que vivi, quem as tem?...”.

Apesar de ser uma balada melodicamente bem construída e detentora, apenas aparentemente, de uma letra romântica simples, a nossa aposta era já um pouco antiquada e conservadora para as novas sonoridades, mais atuais e mais jovens, que começavam a surgir no palco eurovisivo, o que levou a que não fosse mais pontuada e a impediu de subir mais na tabela classificativa.

 No entanto, a interpretação da Simone foi enormemente apreciada por todos, tendo sido soberbamente engrandecida pelo comentador da BBC, David Jacobs, que referiu no final da canção portuguesa “com uma voz como esta e com uma interpretação como esta, não admira que a cantora portuguesa seja a rainha da rádio e podia-o ser de qualquer rádio do mundo”.

Gomes Ferreira voltou a ser o comentador de serviço, que não se deslocou a Nápoles. Situação caricata, estando o Henrique Mendes em Itália a acompanhar a Simone.

Maria Manuela Furtado teve a honra de ser a porta-voz do júri português.

 

CURIOSIDADES

 - Em 1965 conseguiu-se um record de participantes (18), que só viria a ser ultrapassado dez anos depois, em 1975.
 - Pela primeira vez, o ESC foi transmitido em direto, através da Intervision, para os países da Europa de Leste.

 - Três dos concorrentes eram de origem francesa: Guy Mardel (França), Marjorie Nöel (Mónaco) e a própria vencedora France Gall (Luxemburgo).

 - Para além do Mónaco e do Luxemburgo, todos os outros países decidiram apostar em cantores nacionais, com exceção da Suíça, que se fez representar por uma cantora grega, Yovanna.

 - Quatro  canções não foram pontuadas: Espanha (“Que bueno, que bueno”), Alemanha (“Paradies, wo bist du?”), Bélgica (“Als het weer lente is”) e Finlândia (“Aurinko laskee länteen”). Todos estas países já tinham terminado o concurso, pelo menos uma vez, com zero pontos.
 - A Alemanha conseguiu a proeza de não receber nenhum voto dois anos consecutivos: 1964 e 1965.
 - Katy Kirby e "I belong" consegue o 5º segundo lugar para o Reino Unido, nas suas 8 participações. No ano anterior Matt Monroe e "I love the little things" também se classificaram em segundo lugar.

- Três intérpretes já tinham representado os seus países em edições anteriores: Udo Jürgens (Áustria, 1964), Conchita Bautista (Espanha, 1961) e Vice Vukov (Jugoslávia, 1963).

 Udo Jürgens voltou a representar a Áustria em 1966, acabando por ganhar o concurso e alcançado a primeira vitória no certame para a Áustria.
 - Dois dos intérpretes voltariam a representar o seu país no ESC: a norueguesa Kristi Sparboe (1967 e 1969) e a nossa Simone de Oliveira (1969).

 - Sete dos 18 concorrentes já morreram. Que descasem em paz Conny van de Bos (Holanda, 2002), Kathy Kirby (Reino Unido, 2011), Butch Moore (Irlanda, 2001), Marjorie Nöel (Mónaco, 2000), Ingvar Wixell (Suécia, 2011), Brigit Brüel (Dinamarca, 1996) e Vice Vukov (Jugoslávia, 2008).

 - O sueco Ingvar Wixell, apesar de ter ganho a seleção nacional sueca interpretando a sua canção em sueco (“Annorstädes vals”), decidiu cantá-la em inglês no Eurofestival (“Absent friend”). Esta situação levou os organizadores do ESC a estabelecer a regra de que os países concorrentes seriam obrigados a apresentar temas numa das línguas nacionais do seu país.

 

CANÇÃO EM DESTAQUE
 “Poupée de cire, poupée de son” foi sem sobra de dúvida a melhor canção a concurso no ESC 1965. A minha escolha recaiu no tema proposto pelo Luxemburgo não só por ser a primeira vencedora do certame que não foi uma balada e a minha canção favorita, mas por representar um volte-face no Festival da Eurovisão.

Foi definitivamente com esta canção que o ESC passou a ser um concurso mais atual, onde temas joviais e inovadores passaram a concorrer, atraindo um público mais jovem e a verdadeira atenção dos media e das editoras discográficas.

Num concurso onde dominavam as baladas mais ou menos clássicas, mais ou menos antiquadas, o yé-yé apresentando por Serge Gaisbourg foi uma “pedrada no charco”, que abalou tradições e o status-quo estabelecido. Para além de uma melodia jovem e atrevida, “Poupée de cire, poupée de son” é também detentor de um poema polémico, com algumas insinuações mais ou menos insidiosas, que anteviam outras canções controversas de Gainsbourg como “Les sucettes” (os chupa-chupas), também criado por France Gall, e “Je t’aime... moi non plus” (amo-te... eu também não), interpretado pelo próprio Gainsbourg, em dueto com Jane Birkin.

Depois desta vitória, nada voltou a ser o mesmo no ESC. France Gall abriu as portas a Sandie Shaw, Cliff Richards, Massiel e tantos outros e o concurso não voltou a ser o mesmo, entrando definitivamente na era do “aquário” e no espírito do “flower power”.

 “Poupée de cire, poupée de son” tornou-se um sucesso à escala mundial, tendo alcançado um record de vendas em França, ultrapassando os 500 mil singles vendidos, e em muitos outros países europeus. France Gall gravou também a versão inglesa da canção – “A lonely singing doll” –, tendo existido numerosos covers em mais de 18 línguas. Em Portugal, Karina gravou a versão portuguesa, designada “Boneca de cera, boneca de som”.

 

A minha pontuação para Poupée de Cire, Poupée de son é a seguinte mediante as respetivas categorias, numa escala de 0 a 10 pontos:

Letra: 10

Música: 10

Interpretação: 7

Apresentação em palco: 6

Visual: 9

Sensualidade: 4

 

Please reload

bottom of page