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Festivais da Canção entrevista Andrej Babic e Carlos Coelho

4/03/2014 por Carlos Portelo

Hoje publicamos a nossa entrevista a Andrej Babic e a Carlos Coelho, respetivamente o compositor e autor da Canção nº1, Mea culpa que Catarina Pereira irá defender no Festival da Canção. Face às últimas perguntas se direcionarem para o contexto nacional pedimos a Carlos Coelho que complementasse a entrevista feita a Andrej Babic com as suas respostas a estas questões. Agradecemos a Andrej Babic e a Carlos Coelho as suas respostas.

Festivais da Canção – Como encarou o convite da RTP para compor uma canção para “Festival da Canção 2014”?
Andrej Babic - Para ser honesto participar no Festival da Canção 2014 não fazia parte dos meus planos. Também tinha a noção que já fizemos várias coisas nos Festivais e que era tempo de explorar outros caminhos para promover a nossa música. Se o concurso fosse aberto eu nunca teria concorrido com uma canção. Porém, o convite da RTP surgiu, o que muito me honrou e como tal não pude ignorar o facto de que eu representei o vosso maravilhoso país por duas vezes no Eurovisão, já para não mencionar que Senhora do Mar foi votada, pelo público, como a melhor canção de sempre.Eu agradeço à RTP por ter apostado em mim e por me ter dado a oportunidade de ser o primeiro compositor estrangeiro a participar no Festival da Canção. Eu gosto do povo português e do vosso lindo país. Assim, quando eu digo nunca mais, não me levem a sério. Eu creio que o vício é mais forte do que pensava. 

FC – Porque escolheram de novo a Catarina Pereira para interpretar o vosso tema?

AB - Quando recebemos o convite ficámos agradavelmente surpreendidos porque estávamos em meados de Janeiro e eu suponha que a RTP tinha outros planos, talvez uma selecção interna ou qualquer outra coisa.Eu tenho que ser completamente honesto, se o júri distrital existisse este ano eu agradeceria à RTP o convite e não participaria. Eu fui um dos que critiquei o sistema de votação anterior não sei se foi para o vosso site. Se Portugal quer fazer algo grande na Eurovisão e eu sei que há um grande entusiasmo dos fãs aí, um júri composto por músicos da área clássica a julgar canções que deveriam ser músicas pop na Europa não funciona.Quando soube que o vencedor seria escolhido apenas pela audiência então eu disse vamos embora e quem é que mais poderia ser a nossa intérprete? A verdadeira vencedora de 2010 se nesse ano a decisão fosse 100% do televoto, nós gostaríamos de lhe chamar a “representante” portuguesa na Eurovisão… e quem sabe talvez o melhor resultado de sempre de Portugal.

 

FC – Compôs esta canção propositadamente para o Festival?

AB - Uma vez que o convite veio atrasado, meados de Janeiro, nós enfrentámos a questão de escolher a música e tivemos de decidir em muito pouco tempo. Eu tinha duas músicas, que poderiam resultar na Eurovisão, mas tínhamos de encontrar uma canção que resultasse em ambos os casos: em Portugal e para o resto da Europa. Então eu pedi ao Carlos apenas duas semanas e no início de Fevereiro, eu tinha composto uma nova melodia e o Carlos disse-me que eu tinha conseguido fazer um grande tema. Isto porque nós acreditamos que fazer parte do Festival da Canção só por participar não é para nós. Somos ambos lutadores e se estamos num jogo então jogamos com as nossas melhores armas.

 

FC – Esta canção é semelhante ao Canta por mim ou está mais próximo do Sobrevivo?

AB - O tema é mais do estilo do “Canta Por Mim”… como se fosse uma sequela… não só na melodia, nos arranjos, mas também na letra. Também temos de aceitar o facto que a Catarina é agora uma jovem mulher muito bonita e não mais uma adolescente… então quisemos usar isso no nosso tema. Desta vez, há mais paixão, mais energia feminina e olhando para a melodia e para a produção, eu penso que demos um grande passo em frente, fazendo um tema mais próximo do que a Eurovisão é na actualidade. Claro que não queremos fazer uma canção muito distante de Portugal e das suas tradições. É por isso que temos novamente a guitarra portuguesa e talvez este seja o momento que é mais similar ao “Canta Por Mim”.

 

FC – Concorda com o método de seleção da canção portuguesa para o ESC ser 100% televoto?

AB - Se houvesse um júri constituído por pessoas que seguem a Eurovisão, DJs, eu seria favorável à presença dum júri. Mas, é muito complicado para músicos da área clássica julgar canções pop nos dias de hoje. Então, sim… estou muito satisfeito de ser 100% televoto, como é que não poderia estar? Nós já vencemos o televoto por três vezes, ahaa…. E depois de tudo, no final, nós somos todos julgados pela audiência, pelas pessoas que ouvem a nossa música, que vão aos nossos concertos e compram os nossos discos…

 

FC – Quais as suas expectativas para a sua canção Festival da Canção?

AB - Eu não estaria a ser honesto se vos dissesse que só participamos por divertimento. Nós temos uma canção feita para a Eurovisão e temos uma grande cantora: Catarina Pereira. Precisamos só do apoio do público e depois estamos prontos para mostrar um Portugal diferente ao resto da Europa. Eles já viram muitas vezes a vossa (posso dizer a nossa? J) dedicação para as belas tradições, agora deixem-nos mostrar-lhes que há discotecas em Portugal, que há belas mulheres… assim talvez eles decidam vir cá em 2015.

 

FC – Vem assistir ao Festival da Canção?

AB - Ainda não tenho a certeza, eu já tinha eventos marcados antes ainda de ter recebido o convite. Por exemplo, durante a semifinal, a 8 de Março, eu estarei na Sérvia, num concerto com uma das grandes divas croatas, que já esteve por duas vezes na Eurovisão: Doris. Se eu for, será decidido à última hora. Eu adorava estar em Lisboa outra vez… ter estado aí em 2008 foi maravilhoso.

 

FC – Esta é a 5ª canção que apresenta nas finais portuguesas para o ESC, tendo vencido por duas vezes. Por favor diga-nos porque aceitou competir todas estas vezes nas nossas finais para o ESC? Fale-nos um pouco acerca de cada uma delas.

AB - Sabem, às vezes eu digo a mim próprio que nós devíamos libertar-nos da Eurovisão em geral… mas, como vos disse é um vício, mais forte do que eu penso. J Por outro lado, nós somos autores e a nossa tarefa é fazer canções… então, rejeitar convites seria como sabotar o nosso trabalho. Todas as cinco músicas que compus até agora têm uma história diferente e levaria muito tempo a analisá-las agora. Nós não podemos compará-las, são todas diferentes e os artistas também diferentes… mas existe algo que é chamado o estilo do compositor. Algumas pessoas que seguem o meu trabalho há algum tempo dizem que conseguem reconhecer a minha melodia das outras. Embora isso, alguns poderão dizer que todas as minhas melodias são iguais, eu vejo isso como um elogio. As pessoas comparam “Vida Minha” à “Senhora do Mar”, e provavelmente irão comparar “Mea Culpa” com “Canta Por Mim”. O melhor é seguir o meu próprio estilo do que copiar outros.

 

FC – O Festival da Canção comemora 50 anos. Por favor escolha uma das seguintes 3 opções como a mais correta para si:

A) O Festival da Canção é uma marca importante da RTP

B) O Festival da Canção extravasa a própria RTP, sendo uma referência nacional

C) Uma marca a descontinuar

Carlos Coelho - A) e B) O Festival é obviamente uma marca criada pela RTP, mas como já existe há tanto tempo e tem como propósito a eleição de um representante nacional, também é uma espécie de instituição nacional, à qual todos os Portugueses podem sentir-se afectivamente ligados.

 

FC – Como vê o atual panorama musical em Portugal quando muitos músicos e cantores estão sem trabalho?

CC - Seria ilusório achar que os músicos, cantores e até autores escapariam a um contexto específico de crise, a juntar-se às vicissitudes de um pequeno mercado como o nosso. Infelizmente, existem muitos Portugueses talentosos sem trabalho em todas as áreas, e os músicos não serão excepção.

 

FC – Fernando Tordo abandonou o país rumo ao Brasil face ao exposto na pergunta anterior. Quer comentar?

CC - Não comento o caso específico, porque parece-me um caso individual que está sobredimensionado pela exposição mediática. Muitos Portugueses emigram e, em última análise, será sempre uma perda para o País. No entanto, não vejo a emigração voluntária em busca de melhores condições de vida como uma fatalidade ou luto nacional.

 

FC – O facto de não existir em prime time um programa musical com cantores profissionais, com exceção para as imitações não contribuirá fortemente para o desempregos dos nossos cantores e músicos?

CC - O nosso mercado nacional não é pequeno, é minúsculo. Somos 10 milhões (com mais alguns pelo mundo) num mundo de 7 biliões, não se pode esperar que um país de 10 milhões tenha um mercado artístico com milhares de nomes a viver exclusivamente da música. O número de álbuns lançados não pára de crescer, mas o número de consumidores pagantes de música diminui a pique, é óbvio que nem todos poderão ficar no mercado. Dito isto, obviamente que todos os programas e meios de divulgação de trabalhos artísticos originais (como aliás o é o Festival da Canção) são bem-vindos e desejáveis num país de pequeno mercado como o nosso.

 

FC – Quando existem cantores profissionais sem trabalho justifica-se existirem concursos para novos talentos?

CC - Obviamente que se justifica e os novos talentos não devem ser discriminados só por serem mais novos. Impedir isso seria o mesmo que impedir que os jovens estudantes concorressem à Universidade enquanto não houvesse emprego para todos os licenciados anteriores.No entanto, também é de valorizar que se procurem talentos na escrita, na composição, na produção, nos arranjos musicais, em instrumento, na dança… nas várias vertentes artísticas.

 

FC – Este espaço é para a sua canção diga o que pretender sobre ela e toda a equipa.

CC- Trabalhamos dedicadamente para que “Mea Culpa” seja uma apresentação memorável e digna dos 50 anos do Festival da Canção! Não estamos muito preocupados em chegar a Copenhaga, mas estaremos seguramente bem preparados se tal acontecer! :-)

 

Fonte: Festivais da Canção, Andrej Babic e Carlos Coelho

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